Revista MS

Tenente recrutava PMs para fazer escolta ilegal de delator do PCC

O tenente Giovanni de Oliveira Garcia, 32 anos, é apontado em depoimentos, obtidos pelo Metrópoles, como o responsável pelo recrutamento de policiais militares na segurança particular de Vinícius Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), assassinado com dez tiros de fuzil, no fim da semana passada, no Aeroporto Internacional de São Paulo. 

Gritzbach era denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por ajudar na lavagem de dinheiro da maior facção do Brasil, além do suposto envolvimento na execução de dois integrantes da bando, entre eles um importante líder.

Até o momento, oito PMs que prestavam serviço de segurança para o delator foram afastados. A reportagem teve acesso aos depoimentos de três deles, prestados à Corregedoria da corporação no dia seguinte ao assassinato, ocorrido no aeroporto da Grande São Paulo.

O tenente ou sua defesa não foram localizados até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações. Segurança particular

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Apesar de ser proibido pela PM, o serviço de segurança particular era oferecido pelo tenente, que fazia o elo entre PMs interessados e Gritzbach, afirmam os depoimentos.

Em seu relato à Corregedoria, o soldado Adolfo Oliveira Chaves, de 34 anos, afirmou que “foi convidado” para trabalhar para a família do delator “pelo 1º tenente PM Garcia do 23º Batalhão da PM [23º BPM]”. O oficial, segue o soldado, “administra’’ atividade de segurança particular para exercer segurança da família [de Gritzbach]”.

Fontes policiais afirmaram em sigilo que o tenente oferece os serviços, sem registros, para empresários, incluindo de escolta particular, em regiões nobres da capital paulista como Itaim Bibi e Faria Lima.

Elo com o PCC

O soldado Adolfo acrescentou à Corregedoria que trabalhou com a segurança de Gritzbach e familiares dele, por cerca de dez meses, em 2023. Ele pediu para deixar de prestar o serviço após saber, “por meio da mídia”, que Vinícius Gritzbach “tinha envolvimento com o crime organizado, PCC”.

Quando foi pedir as contas, ele não mencionou ao oficial do 23º BPM que a motivação era o elo de Gritzbach com a facção. Ele comunicou ao tenente Garcia que deixava o serviço “por achar que estava perigoso”, reforçando que “não citou a informação de organização criminosa a ninguém”.

Apesar disso, o soldado voltou a trabalhar na segurança de Gritzbach, dias antes do assassinato, mesmo sabendo sobre “as atividades ilícitas” do cliente. Ele alegou ter aceitado o trabalho “em razão de sua precária condição financeira”, mesmo realizando os bicos oficiais da PM, os quais, de acordo com o soldado, “não são suficientes para suprir suas necessidades”.

Soldados

O soldado Jefferson Silva Marques de Souza, de 29 anos, afirmou que trabalhou como motorista particular para a família do delator do PCC “esporadicamente”, por um mês e meio. Ele acrescentou que foi a primeira vez que atuou como segurança particular e que conseguiu o bico ilegal por intermédio do tenente Garcia.
Jefferson disse ainda conhecer o oficial desde 2019, quando ambos trabalharam juntos na Força Tática do 18º BPM, o mesmo batalhão onde estão lotados os três PMs cujos relatos a reportagem teve acesso.

O também soldado Samuel Tillvitz da Luz, de 29 anos, realizou a segurança particular de Gritzbach e da namorada do delator, acompanhando o casal durante sete dias em uma viagem na região nordeste. Eles foram até Maceió (AL) para procurar imóveis de aluguel, com o intuito de passar as festas de fim de ano.

No retorno, quando desembarcou no aeroporto de Guarulhos, Gritzbach foi executado, na frente de Samuel, cuja contratação foi viabilizada pelo tenente Garcia, como afirmado pelo soldado em depoimento.

Arma da corporação

Como mostrado pelo Metrópoles, o soldado Samuel prestava serviço de segurança ao delator há pelo menos um ano. Ele confessou ter levado a arma de uso profissional, pertencente à PM de São Paulo, para realizar a segurança contratada de forma particular na viagem, a qual, segundo ele, aconteceu durante um “afastamento regulamentar” obtido por folgas mensais acumuladas.

Ainda no depoimento que prestou à Corregedoria da PM, o soldado disse desconhecer que Gritzbach era acusado de homicídio, lavagem de dinheiro e jurado de morte pelo PCC. Além disso, afirmou não ter reagido ao ataque feito com 29 tiros de fuzil na área de desembarque para ''proteger a própria vida''.

SSP e PM

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) e a PM foram questionadas sobre os recrutamentos atribuídos ao tenente do 23º BPM. Ambas não se posicionaram. Em uma nota, semelhante a outras encaminhadas anteriormente, a SSP diz que policiais civis e militares são investigados por envolvimento com o delator do PCC, “com acompanhamento das suas respectivas corregedorias”.

A pasta, sob a gestão do PM da reserva Guilherme Derrite, acrescentou ter criado uma força-tarefa para investigar o assassinato de Gritzbach, em uma parceria entre as polícias Civil, Militar, Técnico-Científica, Federal e membros do MPSP.