Enquanto as obras do Novo PAC em Mato Grosso do Sul avançam — com prefeituras comemorando UBSs, escolas e redes de esgoto que só saíram do papel com recursos federais — a ministra Simone Tebet, principal nome do Estado com cargo na União, parece ter adotado uma estratégia peculiar: visitar os canteiros de obras com o entusiasmo de quem descobriu uma mina de ouro, mas com o cuidado de não mencionar de onde veio o dinheiro para escavá-la.
Nos últimos meses, Tebet percorreu municípios sul-mato-grossenses, posando para fotos ao lado de prefeitos e vereadores, falando e apontando as obras e elogiando a “transformação local”. Curiosamente, porém, em nenhum momento a ministra associou as obras ao governo federal ou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Interessantemente, a maioria das obras sendo tocadas não tem uma simples menção ao Novo PAC em MS, onde a ministra do Planejamento deveria defender o nome do governo a qual pertence. Vai culpar o publicitário, também?
Apenas em Campo Grande são quase 70 ações no valor R$ 150 milhões até o momento. Na região do Bolsão, que já foi o principal eixo político da senadora, as obras passam de 1,5 bilhão, principalmente devido a grandes projetos de Transição Energética como UTE Suzano e a planta de Fertilizantes da Petrobras, Petróleo/RTCPG, além de obras de saneamento e infraestrutura urbana.
A estratégia de Tebet, aliás, não passa despercebida. Em Brasília, aliados do Planalto cochicham que a ministra, que veio do centrão e do agronegócio (também flertou com o bolsonarismo no início de 2019 e 2020, elogiando a escolha dos nomes dos ministros e condenando a sanha em investigar as rachadinhas de Flávio Bolsonaro), quer capitalizar os frutos do PAC sem “sujar a imagem” ao lado de Lula.
Não é de hoje que Tebet joga no campo ambíguo da autonomia política. Em MS, onde teve sua base eleitoral, a ministra parece cultivar a narrativa de que as obras são conquistas de outros, que não o “Pai Lula”. O problema é que, ao apagar o governo federal da equação, ela deixa o Planalto sem o retorno político de um programa que custou R$ 1,7 trilhão aos cofres públicos.
É como se o PAC fosse um presente anônimo: todo mundo ganha, mas ninguém sabe quem mandou o cartão.
Enquanto isso, Lula e o Governo Federal seguem em silêncio. Será tolerância estratégica ou falta de atenção? Resta saber se, em algum momento, o presidente vai cobrar o “agradecimento na nota” — ou se preferirá deixar a ministra cavando sozinha seu espaço na trincheira do centrão.
CUTUCADA DO DIA
“Tão eficiente quanto Tebet em desvincular o PAC de Lula só o ChatGPT explicando que não tem opiniões.”
Fotos originais obtidas no seguinte link: https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/marco/em-dourados-ms-simone-tebet-comemora-entrega-do-aeroporto-e-novas-moradias-para-comunidades-indigenas