Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, no Vaticano. Argentino de Buenos Aires, o líder da Igreja Católica Apostólica Romana desde 2013 entrou para a história como o primeiro pontífice latino-americano, o primeiro jesuíta e o primeiro papa não europeu em mais de 1.200 anos.
Sua morte encerra um dos pontificados mais simbólicos da era contemporânea, posto que ele é considerado uma das pessoas mais influentes do século XXI.
Desde que assumiu o papado em 2013, Francisco se destacou por seu estilo simples e carismático, optando por residir na Casa Santa Marta em vez do tradicional Palácio Apostólico, e, ainda, por priorizar causas sociais como a migração, as mudanças climáticas e o combate à pobreza. A surpresa veio pelo fsto de que ele era, a princípio, considerado conservador.
Apesar de ser muito admirado pelos católicos e não católicos por sua visão humana, sensível e delicada, Bergoglio não era o favorito entre os papáveis, e sua eleição acabou sendo uma surpresa para muitos.
Mas foi na relação com a América Latina – e especialmente com o Brasil – que sua figura ganhou ainda mais força. Logo no primeiro ano de pontificado, ele visitou o país para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, onde celebrou uma missa para mais de 3 milhões de pessoas na Praia de Copacabana. Durante a visita, emocionou ao abraçar moradores de favelas, denunciar a corrupção e criticar a desigualdade social brasileira.
“Os jovens brasileiros são esperança com pernas”, disse Francisco na ocasião, frase que virou símbolo da aproximação inédita entre o Vaticano e os fiéis do maior país católico do mundo.
Ao longo de seu papado, Francisco demonstrou apreço contínuo pelo Brasil, enviando mensagens em momentos de crise e se pronunciando sobre temas sensíveis como a desigualdade social, a devastação da Amazônia e os direitos indígenas.
Saúde frágil
Mesmo antes do conclave que o elegeu papa, Francisco tinha saúde frágil e, em 2011, já havia renunciado como arcebispo de Buenos Aires, por ter atingido a idade limite.
Nos últimos anos, sua saúde inspirava cuidados, e após internações frequentes, sua condição se agravou no início de 2025, com episódios de infecção respiratória. Mesmo debilitado, fez questão de participar da bênção de Páscoa, no dia 20 de abril, onde apareceu visivelmente debilitado.
Funeral e sepultamento
Em entrevista ao TopMídia News, o professor e historiador Edgar Pinheiro Delmondes, de 57 anos, explicou os detalhes do rito sucessório.
Segundo ele, os funerais de Francisco durarão nove dias, com o sepultamento marcado entre o quarto e o sexto dia. Uma das novidades é o local do sepultamento. “Ao contrário dos demais papas, que são sepultados na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco, por sua humildade, optou pela Basílica de Santa Maria Maior, também em Roma”, explicou.
Ainda de acordo com Delmondes, há meses o Papa já vinha demonstrando sinais de fragilidade e, de forma discreta, havia acertado previamente com o Vaticano como gostaria que fossem seus funerais.
Conclave começa em 20 dias
O conclave, reunião dos cardeais da Igreja para escolha do novo Papa, começa oficialmente em 20 dias. Apenas os cardeais com menos de 80 anos têm direito a voto — o que atualmente representa cerca de 138 cardeais dos 252 no colégio cardinalício.
Entretanto, o número máximo permitido para votantes é 120, o que pode levar a ajustes ou exclusões de participantes mais recentes.
Durante o conclave, os cardeais ficam completamente isolados do mundo exterior em uma casa de retiro em Roma. “Eles não podem ter contato com celulares, redes sociais, televisão ou qualquer tipo de mídia. Ficam em oração, reflexão e debate até chegarem a um consenso”, explicou o professor.
A eleição exige que um candidato obtenha dois terços dos votos. Caso isso não ocorra, novas rodadas de votação são realizadas. A fumaça liberada pela chaminé da Capela Sistina indica o resultado: fumaça preta significa que não houve definição, enquanto a fumaça branca confirma a escolha de um novo Papa.
Escolha pode sinalizar nova direção da Igreja
A morte de Francisco abre espaço para uma importante discussão dentro da Igreja Católica: manter o caminho progressista do pontífice argentino ou retornar a uma postura mais conservadora.
“Papa Francisco foi um líder de diálogo, acolhimento e paz. Ele universalizou a Igreja, promovendo diálogo com diversas religiões, culturas e povos. Mas dentro do Vaticano há uma corrente forte que defende a escolha de um Papa mais tradicionalista”, apontou.
Questionado sobre possíveis nomes, o historiador afirma que, embora existam alguns cardeais de destaque, ainda é cedo para apostas. “Quando Francisco foi eleito, ele não era cotado como favorito. Pode ser que vejamos algo parecido agora.”
Ainda segundo o professor, há expectativa de que o novo Papa seja europeu, apesar da Igreja contar com cardeais de todas as regiões do mundo. “É uma instituição milenar e muito política. Cada cabeça é uma sentença. Agora, com a perda de um Papa tão querido, a escolha do sucessor será fundamental para os rumos da Igreja nos próximos anos.”