Há 35 anos, surgia a primeira versão do Adobe Photoshop, um dos primeiros “killer apps” da história. “Killer app” é o termo que se usa para softwares tão importantes que superam o valor de tecnologias maiores, como computadores, consoles ou sistemas operacionais.
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Os “killer apps” fazem consumidores comprar a plataforma apenas para acessar o aplicativo, contribuindo para o aumento das vendas do dispositivo. Por exemplo, os jogos exclusivos da Nintendo são responsáveis pelo enorme número de vendas do Switch.
No caso do Photoshop, a Apple lucrou bastante nos primórdios do software, quando a Adobe lançou o programa revolucionário há 35 anos.
Aliás, a criação do Photoshop tem muito a ver com a Apple e sua história, que começou há mais de 35 anos, envolvendo, até mesmo, a Pixar e “Star Wars”.
Para comemorar os 35 anos de Photoshop, a Adobe preparou uma série de vídeos com Russell Brown, o funcionário mais antigo da empresa. A série visa celebrar o aniversário do Photoshop com relatos de fotógrafos profissionais e o impacto do software. Veja o primeiro episódio:
Já aqui no Giz, a gente também decidiu comemorar o aniversário do Photoshop, mas adicionando detalhes sobre a criação do software e toda a sua história durante os últimos 35 anos. Confira!
35 anos de Photoshop: os primórdios

Imagem: Adobe/Divulgação
Se hoje o termo Photoshop é até verbo (algo que aprofundaremos mais adiante), o software nasceu com outro nome. O que se comemora nesta semana é o lançamento do Photoshop 1.0, no dia 19 de fevereiro de 1990. Mas sua criação é alguns anos mais velha.
Não foram engenheiros e programadores da Adobe que surgiram com a ideia do Photoshop. Em vez disso, a criação do software se enquadra ao mito de gênios revolucionando a tecnologia em uma garagem.
Glenn Knoll, um professor universitário do Michigan, era um entusiasta em fotografia, mantendo uma câmera escura no porão de sua casa. Seus filhos, John e Thomas, cresceram nesse ambiente.
Thomas aprendeu técnicas de fotografia, como manipulação de cores e exposição, graças ao laboratório de seu pai. Outro hobby do patriarca era a tecnologia, passado ao outro filho.
Em 1978, mesmo ano em que os Beatles iniciam um longo processo contra a empresa de Steve Jobs, Glenn Knoll compra o Apple II Plus.
“O que Steve [Jobs] fez em popularizar os computadores pessoais no mundo é algo tão incrível e eu serei eternamente grato à Apple. O acesso ao computador mudou definitivamente a minha vida de um jeito maravilhoso”, afirmou John Knoll em 1999.
John mal sabia que ele e seu irmão também mudariam a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo e, assim como a Apple, para melhor e para pior.
Display: o pré-Photoshop
Thomas Knoll também tinha um interesse em tecnologia, se formando em física em 1982. Em 1984, quando Glenn Knoll comprou o primeiro Macintosh, Thomas completava seu mestrado em ciências da computação.
No mesmo ano, John se formou em Produção Cinematográfica e começou a trabalhar na ILM (Industrial Light and Magic). A ILM é a empresa de efeitos especiais fundada por George Lucas, criador de “Star Wars”, e o irmãos Knoll foram muito importantes para o desenvolvimento da CGI.
Em meados da década de 1980, John aplica seu conhecimento de fotografia em seu trabalho na ILM e no setor de computação gráfica (uma tal de Pixar) que posteriormente foi comprada por Steve Jobs.
Enquanto isso, em 1987, Thomas comprou um Mac Plus para desenvolver seu PhD sobre “processamento de imagens digitais”. No entanto, o computador da Apple não conseguia exibir os níveis de cinza nas imagens.

Primeira e última versão oficial do Display. Imagem: Thomas Knoll/Facebook/Reprodução
Com seu conhecimento em programação, Thomas desenvolveu um programa para exibir níveis de cinza em imagens, já que o Mac Plus não exibia imagens nem a cores. O programa se chamou Display (um trocadilho com a palavra “exibir” em inglês), permitindo exibir os níveis de cinza na tela (display) de 1-bit do PC.
Por não ter interface de cores (GUI), o programa usava uma linha de comandos que possibilitava a exibição de imagens no Mac Plus através da técnica de pontilhamento.
Pixar e Photoshop: a mesma coisa por 1% do preço
Enquanto Thomas desenvolvia o Display, John estava meio continente de distância se esforçando para aprender a arte de renderização por computador. Em 1988, durante as férias, John conheceu o software de processamento de imagens que seu irmão desenvolveu e ficou impressionado.
John reconheceu imediatamente enormes semelhanças entre o Display e o Pixar Image Computer.
O Pixar Image Computer (PIC) foi o computador de processamento de imagens desenvolvido pela LucasFilm com colaboração de cientistas do Instituto de Tecnologia de Nova York.
“O processamento de imagens é a base de qualquer tipo de trabalho gráfico e meu irmão desenvolveu um monte de ferramentas de processamento. Conforme ele me mostrava o trabalho, percebi que as ferramentas de processamento de imagem eram muito similares as do PIC”, disse John em entrevista.
A diferença era que o Pixar Image Computer custava US$ 135 mil, enquanto Thomas Knoll comprou o Mac Plus por US$ 2,5 mil, criando o software sem gastar um centavo.

John e Thomas Knoll. Imagem: Reddit/Reprodução
Em 1988, os irmãos adicionam novos recursos ao Display, que passa a se chamar ImagePro. A intenção era ser um programa gratuito, mas John sugeriu a comercialização do software.
A empresa BarneyScan foi a única a demonstrar interesse, mas optaram por licenciar o software em vez de comprá-lo. Além disso, por motivos de propriedade intelectual, o ImagePro mudou de nome, se tornando Photoshop.
Em setembro de 1988, Thomas e John Knoll apresentaram o Photoshop a Russell Brown. O funcionário mais antigo da Adobe se apaixonou pelo programa e firmou um contrato com os irmãos, que receberiam royalties a cada cópia vendida do Photoshop.
Antes do lançamento oficial do Photoshop, o primeiro uso oficial do software foi por Jhon Knoll no filme “O Segredo do Abismo”, de James Cameron, lançado em 1989. Aliás, o Photoshop foi crucial para desenvolver uma das cenas mais famosas do filme, que ganhou o Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Veja:
10 meses depois do filme, ou há 35 anos, a Adobe lança o Photoshop 1.0, que celebra seu aniversário comercial nesta semana.
Photoshop: 35 anos de mainstream e 30 anos de Adobe
Já no lançamento, o Photoshop se tornou um dos programas mais populares do mundo graças ao timing da revolução da impressão por computador.

Imagem: Adobe/Divulgação
No lançamento, o Photoshop era exclusivo para o Macintosh e custava US$ 895, que corresponde a US$ 2,2 mil nos valores de hoje, ou mais de R$ 12 mil. Em 1992, a Adobe decidiu que era a hora de levar o Photoshop ao Windows. No entanto, a decisão de dividir a equipe de desenvolvimento entre Windows e Mac se provou um erro da Adobe.
A primeira versão para Windows foi o Photoshop 2.5, mas os próprios engenheiros reconhecem que o software era totalmente distinto do Mac. Em 1993, Seetharaman Narayanan desenvolveu um port do Photoshop para o Windows que se equiparava à versão do Mac.
No final do ano seguinte, o Photoshop 3.0 se tornou um enorme sucesso de vendas em ambas plataformas, levando a Adobe a revisar o contrato. Já em abril de 1995, a Adobe compra os direitos do Photoshop por US$ 35 milhões, ou US$ 71 milhões seguindo os valores de 30 anos depois.
Sucesso e consolidação
Graças à expansão do Windows no mercado global, o Photoshop cresceu cada vez mais. Em 1998, o Photoshop 5.0 foi o mais vendido da história graças aos novos recursos e a interface de usuário mais acessível.
A partir dos anos 2000, o Photoshop passou a ser usado em vários setores, desde a imprensa ao web design.

Thomas Knoll e o primeiro Photoshop rodando em um Macintosh. Imagem: Universidade de Michigan/Reprodução
Em 2003, Thomas Knoll ajudou a criar o plugin Camera Raw, que transformou o Photoshop em um software de edição muito mais poderoso.
Na década seguinte, os holofotes na Adobe se alternaram entre a polêmica das assinaturas do Creative Cloud e o trabalho com inteligência artificial para seus aplicativos.
Desde 2018, a Adobe implementa recursos de IA no Photoshop, mas o mais marcante foi o Preenchimento Generativo, em 2023. Aliás, a IA Generativa ajudou o Photoshop a se livrar de um fantasma que persegue a Adobe há quase 35 anos: o termo “photoshopar”.
Após 35 anos, ninguém mais fala “isso é Photoshop”
Desde a popularização do Photoshop (e da pirataria), o software é usado de maneira maliciosa para manipular imagens.
No verbete da Wikipédia sobre tratamento de imagens, há uma seção sobre o termo “photoshopar”, destacando a popularização da expressão para além da língua inglesa.
Os mais velhos devem saber que o neologismo se refere a qualquer foto editada, seja pelo Photoshop ou não. E isso gerou uma dor de cabeça na Adobe porque, em meados dos anos 2000, o termo foi parar na imprensa mainstream.

Imagem: Screenshot/Reprodução
Geralmente, o uso do neologismo vinha acompanhado de polêmicas sobre adulterações em fotos de modelos, como Paris Hilton. Em 2008, o site TMZ publicou uma matéria cuja tradução seria algo como “Beyoncé extremamente Photoshopada”.
No mesmo ano, o New York Times publicou uma matéria sobre como a mídia estatal do Irã “Photoshopou” uma imagem de um teste de mísseis. Em 2015, quando o Photoshop completava 25 anos, a Adobe lançou um memorando sobre o uso da palavra como um verbo.
Segundo o texto, a empresa temia o software se tornasse uma metonímia, algo como Bombril para palha de aço. No entanto, a Adobe tenta restringir a linguagem.
“Marcas registradas nunca devem ser usadas como gírias.
Por exemplo:
‘Aqueles que usam o software Adobe® Photoshop® como hobby para manipular imagens veem seus trabalhos como uma forma de arte.’Em vez de:
‘Meu hobby é photoshoppar’”, explica o documento da Adobe.
Anos depois, a Adobe abandonou a tentativa de eliminar o termo e foi salva pela IA. Hoje, o Photoshop pode comemorar seus 35 anos tranquilamente, pois ninguém mais usa “Photoshopar”. Agora, a frase é: “isso aí é feito por IA”.
E sobre criadores, John Knoll continua a trabalhar na ILM, sendo responsável por várias produções da franquia “Star Wars”. Thomas trabalha como consultor para a Adobe desde 2012.
Em 2019, os irmãos receberam o Oscar Honorário Científico ou Técnico pela criação do Photoshop e a contribuição técnica do software para o cinema.
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