Revista MS

Pantanal está alagando uma área menor e ficando seco por um período maior no ano, aponta estudo

Celebrado nesta terça-feira (12), o Dia do Pantanal foi instituído para reforçar a importância do bioma e a necessidade de sua preservação. Importante local de reprodução de animais silvestres e com a maior área úmida continental do planeta, a região vem sofrendo ano após ano com a seca, incêndios florestais e o avanço da pecuária e da agricultura, colocando em risco a sua existência da forma como conhecemos hoje.

Os dados apontam que a área queimada no primeiro semestre deste ano foi 529% maior do que a média dos anos anteriores. Junho concentrou 79% dessa área, sendo a maior já observada no bioma. O maior município do Pantanal, Corumbá, foi o mais afetado por incêndios no primeiro semestre 2024. Entre 1985 e 2022, houve uma perda de 10% das áreas naturais no bioma.

As informações constam em um estudo inédito do MapBiomas, divulgado nesta terça-feira (12) em celebração ao Dia do Pantanal. Conforme dados apresentados, 1,5 milhão de hectares de vegetação nativa foram convertidos para pastagem nas últimas três décadas. A área alagada diminuiu 61% entre 1985 e 2023, com períodos de seca mais prolongados e cheias cada vez mais curtas, o que tem favorecido também incêndios.

Para efeitos de comparação, em 2022, a área alagada foi de 3,3 milhões de hectares, 38% menor do que em 2018, ano da última grande cheia que cobriu 5,4 milhões de hectares. A duração das áreas alagadas também caiu, antes a maioria permanecia submersa por pelo menos três meses. Hoje, cerca de 22% da área de savana do Pantanal, que soma 2,3 milhões de hectares, vem de locais que se tornaram secos.

Com áreas mais secas, aumentou também o número de focos de incêndio. O estudo apontou que entre 1985 a 1990 estes incêndios aconteciam em áreas em transição para pastagem, mas após 2018 tornaram-se comuns perto do Rio Paraguai. Já entre 2019 e 2023, o fogo atingiu 5,8 milhões de hectares, incluindo locais antes permanentemente alagados.

Em 1985, 22% das terras da Bacia do Alto Paraguai (BAP), que inclui os biomas Cerrado e Amazônia e é essencial para a hidrologia do Pantanal, tinham uso antrópico. Em 2022, esse percentual chegou a 42%. Hoje, 83% do uso humano está concentrado no planalto da BAP. De 1985 a 2023, 5,4 milhões de hectares foram convertidos para pastagem e agricultura, dos quais 2,4 milhões eram florestas e 2,6 milhões eram savanas.

Já na planície, a perda de vegetação natural foi menor, mas ainda significativa. Entre 1985 e 2023, 1,8 milhão de hectares foram desmatados, incluindo campos alagados e vegetação de savana. As pastagens exóticas aumentaram de 700 mil para 2,4 milhões de hectares, com mais da metade desse crescimento nos últimos 23 anos.

“O Pantanal já experimentou períodos secos prolongados, como nas décadas de 1960 a 1970, mas atualmente outra realidade, de uso agropecuário intensivo e de substituição de vegetação natural por áreas de pastagem e agricultura, principalmente no planalto da BAP, altera a dinâmica da água na bacia hidrográfica”, explicou Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do bioma Pantanal no MapBiomas.