Revista MS

Pai se despede de filho que nasceu morto: 'não vai trazer de volta, mas quero justiça' (vídeo)

Familiares e amigos se reuniram na manhã desta sexta-feira (1º), no cemitério para se despedir do bebê Levi, que nasceu morto neste domingo (27), na Maternidade Cândido Mariano, em Campo Grande. O sepultamento foi marcado por dor, silêncio, lágrimas e pedidos de justiça.

Durante o velório, os irmãos de Levi, de 9 e 4 anos, colocaram brinquedos sobre o caixão do bebê, acreditando que ele pudesse acordar. “Me perguntaram: ‘Será que nosso irmãozinho está com frio?’ e ‘Pai, posso colocar um brinquedo para ele brincar depois, na hora que ele acordar?’”, contou Erick de Oliveira Souza, de 32 anos, visivelmente emocionado.

“Como eles são novos, não entendem ainda. Foi muito doloroso explicar que o irmãozinho não vai levantar do caixão, que não vai acordar, que vai ficar aqui. Eu não tive palavras para explicar isso. É com isso que vou ter que conviver agora”.

O bebê nasceu sem vida após complicações durante o parto, que, segundo a família, foi marcado por demora no atendimento médico. Levi tinha 38 semanas e 5 dias de gestação, estava saudável e pesava 3,250 kg, de acordo com os pais.

A mãe, Darlene Maciel, de 27 anos, sofreu uma hemorragia e precisou passar por uma cirurgia de emergência, tendo o útero retirado. “Agora ela não pode mais ter filhos”, lamentou Erick.

A família acusa a maternidade de negligência, especialmente pela decisão de aguardar a troca de plantão entre médicos, mesmo após a gestante relatar que não sentia mais o bebê se mexer. “Chamamos uma médica, chamamos outra, mas ninguém fazia nada. Nem ultrassom foi feito. Avisamos que ela já tinha tido complicações no nascimento das nossas outras crianças, mas nada foi feito”, relatou o pai.

O parto só aconteceu por volta das 9h da manhã, várias horas depois da chegada do casal à maternidade. De acordo com o pai, a equipe médica só decidiu levar Darlene ao centro cirúrgico após notar sinais claros de sofrimento fetal.

O bebê já havia evacuado dentro do útero, o que indica que estava em sofrimento, e a mãe apresentava uma hemorragia intensa. Segundo a certidão de óbito, Levi morreu por parada cardíaca, sofrimento fetal agudo e descolamento de placenta oculto.

A família, porém, atribui a morte à demora no atendimento e à falta de sensibilidade da equipe médica. “Era uma vida. Por que esperar troca de plantão? A médica era uma mulher. Esperávamos que tivesse mais empatia”, questionou o pai durante o sepultamento.

Erick agora acompanha a recuperação da esposa e tenta responder às perguntas dos filhos mais velhos. “Eles entendem a perda, mas têm várias perguntas. ‘Pai, o que aconteceu com nosso irmãozinho?’, ‘Pai, por que o Levi não está com a gente?’. Essas são as perguntas que eu tenho que lidar de uma forma que eles possam entender”.

O pai também desabafou sobre o luto que está enfrentando. “A dor da sua ausência é um peso insuportável. Eu não pude ouvir o seu choro, sentir seu cheiro e nem sequer pude balançar em meus braços”, escreveu.

Erick afirma que vai buscar justiça para que outras famílias não passem pela mesma dor. “Por mais que nada vai trazer meu filho de volta, vou entrar na Justiça. Não desejo o que passei para pai nenhum”.

Até o momento, a Maternidade Cândido Mariano não se manifestou oficialmente sobre o caso.