Revista MS

No Dia dos Avós, neta celebra quem a criou, vestiu e ensinou o que é o amor

Para Alice Souza de Assis, de 28 anos, o Dia dos Avós não é apenas uma data simbólica. É quase como um feriado pessoal, uma pausa no tempo para lembrar e sentir a presença de alguém que moldou sua vida com linha, colo e cuidado, a avó, Maria Liége Oliveira de Souza, hoje com 83 anos.

Costureira de profissão e de afeto, Maria Liége foi muito mais que avó. “Ela me vestiu, me levou para escola, fez meu almoço, me criou. Foi minha base”, relembra Alice. “Enquanto minha mãe trabalhava o dia todo, era ela quem estava comigo. Eu sou metade criada pela minha mãe, metade pela minha vó”, detalha.

Alice nasceu no estado de Paraná, quando a família decidiu voltar ao estado de São Paulo, quando ela tinha 9 meses. “Eu era a primeira neta menina, depois de dois primos meninos. Aí fui mimada mesmo, virei a princesinha da casa”, diz Alice, rindo. “Nasci loirinha, gordinha, cheia de bochecha. Minha vó fazia roupas para mim, me deixava toda arrumada. Eu vivia na casa dela”, conta com carinho.

As memórias são detalhadas, vívidas, doces como o pudim que só a avó sabe fazer. Alice lembra das tardes jogando dominó com o avô, das brincadeiras com os retalhos da avó e de um costume especial. “Meu aniversário é no dia 10 de outubro, mesmo dia que meu avô recebia o salário. Eu cresci achando que ele trabalhava só para me dar presente. Toda vez eu perguntava: 'Vovó, vai ter presente?'. E sempre tinha. Uma vez pedi uma bicicleta roxa com florzinha desenhada… eles me deram exatamente a que eu queria”, conta emocionada.

Quando o avô faleceu, o impacto foi profundo. A dor da perda uniu ainda mais neta e avó. “A saudade apertou muito, e o amor pela minha vó cresceu. Hoje, só de falar com ela, eu choro. A gente se liga a cada dois dias. Se eu não ligo, ela liga. E mesmo com a distância, nada mudou entre a gente”, comenta.

A distância, aliás, aumentou nos últimos tempos. Alice mora atualmente em Campo Grande, enquanto a avó segue em Mogi Guaçu (SP), a cerca de mil quilômetros de diferença. Mas o vínculo permanece intacto.

“Ela me liga para perguntar se preciso de alguma coisa, se tô comendo direito, se tô dormindo bem. E toda vez que eu vou para lá, é uma festa. Ela quer saber o que eu vou querer comer”.

Maria Liége é vaidosa, animada, lúcida e firme. Aos 83 anos, ela gosta de se maquiar, arrumar o cabelo e até sair para dançar. “Ela é engraçada e brava. Briga com os filhos até hoje se fizerem alguma coisa errada. Com os netos, é só um pouquinho mais leve. Mas é sempre aquela vózona presente, que se preocupa, que quer cuidar.”

Mesmo com mais de oito décadas de vida, segue costurando, limpando a casa e cuidando da própria rotina com independência. “Ela é uma mulher muito forte. Teve uma vida dura, mas nunca deixou de dar carinho. Quando me mudei para Campo Grande, ela me ajudou com o que pôde: mandou toalha de banho, toalha de mesa, me deu a mesa de jantar. Sempre pensando no meu conforto”, lembra Alice.

O amor é tamanho que a fotografa não pensa em um mundo sem Maria Liége. “Não consigo imaginar o mundo sem ela. Se tem alguém que eu queria que vivesse para sempre, é minha vó. Tudo que eu sou tem muito dela. Meu caráter, minha força, meu jeito de ser. E até meu gosto por cozinhar”.

No meio das lembranças, Alice volta para aquela que talvez seja a mais simples e simbólica, o lugar mais seguro do mundo. “Quando eu era pequena, eu só dormia entre os meus avós. Era ali, no meio da cama, que eu me sentia mais protegida. E, de certa forma, até hoje é assim. Mesmo longe, mesmo adulta, é o abraço da minha vó que continua sendo o melhor de todos”.