Celebrado hoje, 31 de julho, o Dia do Orgasmo é mais que uma data sugestiva no calendário. É um convite à reflexão sobre sexualidade, saúde e liberdade, especialmente para as mulheres, que durante séculos tiveram seus desejos controlados, silenciados e, pasme, até mesmo “tratados” como doença.
No início do século XX, mulheres que apresentavam sintomas como ansiedade, insônia, irritabilidade ou desejo sexual eram frequentemente diagnosticadas com “histeria feminina”, um rótulo amplo e vago, usado para patologizar comportamentos que fugiam da norma esperada – àquela época – para o sexo feminino.
O “tratamento” incluía a estimulação genital feita por médicos, com o objetivo de provocar o orgasmo, visto à época como uma forma de alívio emocional, e não como uma expressão legítima de prazer.
Com o tempo, e graças aos avanços na medicina e na psicologia, esse tipo de abordagem foi sendo abandonado. Hoje, a histeria já não é reconhecida como transtorno clínico, e os sintomas antes atribuídos a ela são tratados como quadros sérios e distintos, como transtornos de ansiedade, depressão ou transtornos de personalidade, que exigem psicoterapia, medicamentos adequados e, em alguns casos, terapia sexual, sempre com foco na saúde integral e no respeito ao paciente.
Enquanto no passado o orgasmo feminino era encarado como um “remédio”, hoje ele é reconhecido pela ciência como um fator real de bem-estar físico e emocional.
Estudos publicados pela Verywell Mind e Verywell Health apontam que o orgasmo provoca uma série de respostas neuroquímicas benéficas: reduz o cortisol (hormônio do estresse), libera dopamina, endorfinas e oxitocina, promovendo relaxamento, melhorando o humor, o sono e até aliviando dores físicas.
A OHSU (Organização de Saúde das Mulheres da Universidade de Oregon) também destaca que uma vida sexual ativa e prazerosa fortalece o sistema imunológico, melhora a função cardíaca e ajuda na autoestima, além de fortalecer laços afetivos e emocionais.
Já uma pesquisa conduzida pela Universidade de Essex, no Reino Unido, mostrou que mulheres com maior consciência sobre o próprio corpo, a chamada consciência interoceptiva, têm orgasmos mais frequentes, principalmente quando estão sozinhas, com um aumento de até 20% na satisfação sexual solo.
Essas descobertas mostram que o prazer não é apenas legítimo, é terapêutico. E, ainda, que ter uma vida sexual ativa, consentida e saudável não é luxo, é uma questão até de saúde pública. O orgasmo não resolve tudo, é verdade, mas ajuda. Muito.
Enquanto a medicina caminhou para uma abordagem mais ética e baseada em evidências, a sociedade também evoluiu. Tabus foram sendo rompidos, e a mulher passou a ser reconhecida como sujeito do seu próprio desejo. Se antes sua sexualidade era regulada e vigiada, hoje ela busca se expressar com mais liberdade, consciência e informação.
Ainda há muito o que avançar, claro, principalmente quando se trata de educação sexual, acesso a terapias especializadas e quebra de preconceitos. Mas já não se aceita mais que o prazer feminino seja um segredo escondido entre mitos ou diagnósticos questionáveis.
O Dia do Orgasmo, portanto, não é só sobre sexo, tão simples e puramente, é sobre saúde emocional, liberdade de escolha e autocuidado.
Se algo não vai bem na sua vida sexual ou emocional, o mais importante é procurar ajuda de algum profissional da saúde. Cuidar do prazer é cuidar da vida.