Revista MS

Jornalista agredida por namorado relata medo: 'Estou presa em casa, enquanto ele está solto' (vídeo)

Jornalista de 37 anos, que foi agredida pelo namorado enquanto estava com a filha bebê no colo, relatou estar com medo após o agressor conseguir liberdade provisória. Em relato, ela afirmou se sentir desamparada, isolada em casa, enquanto o agressor, um músico de 38 anos, segue livre e com direito de visita à filha.

A mulher divulgou um vídeo feito logo após as agressões, em que aparece com o rosto coberto de sangue e o nariz visivelmente quebrado. No relato, ela desmentiu a tese do suspeito de legítima defesa e questionou a decisão judicial que o colocou em liberdade.

A jornalista contou que, no dia da agressão, o casal havia passado a tarde na casa de amigos em um almoço descontraído. “Foi uma tarde extremamente agradável, não houve briga”, disse.

No retorno para casa, ela estava no banco de trás do carro, amamentando a filha, enquanto o namorado dirigia. Ao chegarem à casa dela, o homem desceu do carro, e quando ela foi entrar em casa, ele iniciou a agressão.

“'Agora você vai ter o que falar', disse ele antes de me bater. E foram vários golpes”, relatou a vítima. Segundo ela, em algum momento, ele percebeu que a filha estava no colo e parou.

Machucada e sangrando, a mulher tentou pedir ajuda a uma vizinha, mas não conseguiu. Foi então que enviou um vídeo para os irmãos, que rapidamente foram até a casa dela.

A cunhada, que é policial civil, ajudou a localizar o suspeito no condomínio onde ele mora. O músico foi preso em flagrante e levado à Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).

Após a agressão, a jornalista foi levada para atendimento médico. No posto de saúde, exames confirmaram a fratura no nariz e um corte profundo no supercílio, que precisou de pontos

Em seguida, ela foi levada para a Santa Casa, onde fez uma ressonância. No dia seguinte, fez exame de corpo de delito, que confirmou todos os ferimentos e foi anexado ao processo.

Ela rebateu as alegações do músico de que teria sido um caso de legítima defesa. “Ele fez exame de corpo de delito e não tem nada. Ele não tem nenhum arranhão, nada, porque eu não consegui nem me defender, porque eu fui proteger minha filha”, afirmou.

A jornalista revelou que o relacionamento já era conturbado e que, na véspera da agressão, a filha mais velha dela decidiu sair de casa por não suportar mais a convivência com o homem. “Ela falou: 'Eu vou embora porque não aguento mais ver esse cara aqui'”.

Ela acredita que a agressão foi motivada pelo fato do músico perceber que ela queria terminar a relação. “Ele já estava desestruturando minha família fazia tempo e viu que eu queria sair disso. Acho que foi por isso que ele me bateu”.

Liberdade provisória

Mesmo com a gravidade da agressão e das provas apresentadas, o músico conseguiu liberdade provisória por meio de um habeas corpus concedido pela Justiça. Ele estava preso desde a noite do dia 3 de março, quando a situação de violência doméstica foi denunciada.

O desembargador da 3ª Câmara Criminal do TJMS publicou o alvará de soltura. A liberdade foi realizada após o homem conseguir um habeas corpus.

Em defesa, os advogados do músico alegaram que ele possui residência fixa, profissão e não coloca em risco a aplicação da lei. Além disso, a defesa alegou que ele não possui antecedentes criminais e que não há um laudo pericial que comprove que a vítima de fato sofreu uma lesão corporal.

O músico também alegou legítima defesa, dizendo que a vítima teria o atacado e que apenas se defendeu, causando “suposto” ferimento na namorada, sem intenção. Com isso, a defesa alegou que a prisão cautelar é desproporcional e pediu a concessão de liberdade provisória, em razão da presunção de inocência e ausência de motivos para manter a custódia.

O argumento foi analisado e aceito pelo juiz, que concedeu parcialmente a liberdade provisória. A soltura, porém, foi feita com medidas cautelares.

Entre as medidas cautelares está o uso de tornozeleira eletrônica por 180 dias e proibição de se aproximar da vítima, qualquer familiar dela e testemunhas a menos de 200 metros. O juiz, no entanto, fez exceção à filha em comum dos dois, garantindo ao acusado o direito de visita.

Ele também está proibido de se ausentar da comarca sem autorização, está obrigado a comparecer a todos os atos do inquérito e a comparecer mensalmente em juízo para comprovar endereço. Em caso de descumprimento das medidas, um novo pedido de prisão poderá ser decretado.

A soltura ocorre exatamente um mês após o caso Vanessa Ricarte, jornalista morta pelo ex-noivo no dia 12 do mês passado, em Campo Grande. O acusado, também músico, não aceitava o término.

Para a jornalista, a decisão é revoltante. “Ele me bateu com minha filha no colo, e agora ele tem direito de visitá-la. Eu estou dentro de casa, presa, enquanto ele está solto. É revoltante”, disse.

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