Revista MS

Enquanto tarifas barram a proteína brasileira, preço da carne moída no varejo dos EUA dispara

Denis Cardoso

Os preços médios da carne moída no varejo norte-americano ultrapassaram US$ 6 por libra (exatamente US$ 6,12) em junho/25 pela primeira vez na história, destacou reportagem publicada no portal beefmagazine.com, citando como fonte os dados oficiais do Bureau of Labor Statistics dos EUA (BLS).

Esse valor é superior aos US$ 5,98 registrado em maio/25 e aos US$ 5,47 de junho de 2024, acrescentou a agência de dados estatísticos.

“A oferta limitada de gado e a demanda forte e contínua estão mantendo os preços da carne bovina altos”, disse Danyelle Chinn, analista de pesquisa do Centro de Análise de Políticas de Financiamento Rural e Agrícola (RaFF) da Universidade do Missouri (EUA).

“É um sinal positivo para os produtores de gado do Missouri, mas também significa que os consumidores estão sentindo o impacto nas lojas”, acrescentou.

Segundo Wesley Tucker, especialista em políticas de negócios agrícolas da MU Extension/Missouri, vários anos de seca e baixa lucratividade forçaram os produtores de carne bovina a reduzir seus rebanhos nos últimos anos.

Na pecuária norte-americana, as vacas precisam de forragem para pastar no verão e feno para comer no inverno. Com opções limitadas de forragem, os produtores tiveram que vender parte do rebanho e não conseguiram reter novilhas para substituí-las.

“Uma grande parte da fábrica de produção – o rebanho de vacas – foi perdida”, destacou Tucker. Os altos preços dos insumos também elevaram o custo de produção. A lucratividade limitada deu aos produtores pouco incentivo para expandir o rebanho.

Carne “magra” do Brasil como protagonista

As importações também são uma peça-chave nesse quebra-cabeça, observaram analistas da Universidade Estadual do Mississippi (EUA) em texto também divulgado recentemente pela Beef Magazine.

As importações de carne bovina aumentaram acentuadamente este ano em meio aos altos preços da proteína no mercado domésticos dos EUA.

A maioria das importações é de aparas magras, que, para produzir carne moída – matéria prima principal dos indispensáveis hambúrgueres norte-americanos – são misturadas com aparas mais gordas produzidas por novilhos e novilhas alimentados internamente.

Segundo os analistas Universidade de Mississippi, mudanças recentes nas tarifas de importação irão impactar o setor de  carne bovina “magra” nos EUA.

“O Brasil foi a principal fonte de importação no primeiro semestre de 2025, mas a tarifa sobre a carne bovina brasileira saltou para 76%, o que certamente levará a reduções significativas enquanto a tarifa estiver em vigor”, alertaram.

Enquanto isso, continuam os analistas, a porcentagem dessas importações de carne bovina magra precisará ser suprida por outras fontes de importação ou carne bovina magra doméstica (oriundas de vacas de descarte e touros).

“Este é um bom exemplo de como tarifas e fluxos comerciais podem impactar os preços e a oferta no mercado doméstico”, disseram os analistas da universidade norte-americana.

Na avaliação dos estudiosos do setor,  é possível que o aumento repentino nos valores das vacas de descarte possa desacelerar ainda mais os esforços de expansão do rebanho bovino nos EUA.

Demanda constante

Mesmo com a alta dos preços da carne bovina, os consumidores norte-americanos continuam comprando carne bovina em vez de optar por proteínas alternativas, como carne suína ou de frango.

O índice extremamente forte de demanda por carne bovina é apoiado por programas de perda de peso do consumidor que enfatizam uma dieta rica em proteínas, disse Tucker, da MU Extension/Missouri.

“Os mercados são o resultado da oferta e da procura”, destacou ele, completando: “A situação atual é a tempestade perfeita de oferta limitada e forte procura colidindo para produzir preços recordes.”

Preços podem subir ainda mais em 2026

Os apreciadores norte-americanos de carne bovina podem se deparar com pratos com preços mais altos em 2026, um reflexo da queda da produção da proteína para o menor nível em uma década e das tarifas limitando as importações, de acordo com uma projeção recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

A oferta total de carne bovina nos EUA deve cair 2,5% em 2026, para 31,1 bilhões de libras — o menor nível desde 2019 —, informou o USDA em um relatório mensal.

A queda ameaça elevar ainda mais os preços recordes da carne bovina, com as tarifas limitando a capacidade dos importadores de amenizar o impacto, observa reportagem publicada pela Blooomberg.

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