O 24º Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA 2025), realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) em parceria com a B3, reuniu, nesta segunda-feira (11), cerca de 800 participantes em São Paulo para debater os caminhos estratégicos do agro brasileiro diante de um cenário global marcado por incertezas políticas, econômicas e ambientais.
Com palestras de especialistas, líderes empresariais e autoridades, o evento evidenciou a importância das agroalianças, da inovação, da sustentabilidade e da ampliação do mercado de capitais para fortalecer o protagonismo do Brasil no comércio internacional e garantir a competitividade do setor no futuro.
De modo geral, o encontro evidenciou que o Brasil tem potencial e condições para manter seu protagonismo no agronegócio global, desde que aproveite as janelas de oportunidades para fortalecer suas alianças e de integrar-se ainda mais com a indústria, transformando cadeias produtivas em sistemas sustentáveis e de alto valor agregado.
Na palestra inaugural do encontro, o embaixador Roberto Azevêdo, diretor geral da OMC (2013-2020) e consultor da ABAG, ressaltou a necessidade de o Brasil adotar uma postura flexível e colaborativa no cenário internacional. “O País não pode permitir que outros escolham nosso lado. Precisamos formar alianças estratégicas, ampliando redes de conexão para fortalecer nossa posição como líder em segurança alimentar e energética”, afirmou Azevêdo.

O presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho (na foto, ao microfone), reforçou na abertura do evento que a nova ordem mundial, com enfraquecimento do multilateralismo e fortalecimento do protecionismo, exige diálogo e construção de parcerias. Carvalho destacou que o agronegócio brasileiro é fruto da ciência e da inovação, sendo responsável por empregos, superávit na balança comercial e por avanços ambientais.
“A geopolítica está no centro das decisões globais e as recentes tarifas refletem esse processo de reposicionamento estratégico dos Estados Unidos. Assim, é urgente o diálogo e a criação de alianças para assegurar o equilíbrio”, disse.
A abertura do evento também contou com a participação dos governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Romeu Zema (MG), e representantes do governo federal e setor privado — como Gilson Finkelsztain, CEO da B3; Jorge Viana, presidente da ApexBrasil; Guilherme Campos, secretário de Política Agrícola do Mapa; Arnaldo Jardim, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA); Antonio Mello Alvarenga Neto, presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA); Roberto Rodrigues, conselheiro da ABAG e enviado Especial para Agricultura da COP30; Silvia Massruhá, presidente da Embrapa; dentre outras autoridades — que reforçaram ações para apoiar produtores, ampliar exportações e investir em tecnologia.
COP 30 e o futuro do agro
No painel “Alimentos, Energia e Inovação”, especialistas debateram o papel da COP30 como marco para reposicionar o Brasil no mercado global. Marcio Santos, CEO da Bayer Brasil, questionou se o agro está preparado para manter sua trajetória de crescimento e ressaltou a falta de ambiente institucional mais favorável para competitividade.
Já Alfredo Miguel, diretor LATAM da John Deere, exaltou o papel da diplomacia em prol da expansão do agro e apontou a necessidade de um plano de curto e médio prazo para que o agro siga líder em ciência e inovação — em consonância à visão de Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, que defendeu a diversificação como base para resiliência diante dos ciclos econômicos e tensões geopolíticas.
Por fim, Larissa Wachholz, especialista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), defendeu uma abordagem mais pragmática e aberta do Brasil nas parcerias internacionais, sem alinhamentos automáticos.
“Precisamos pensar em nossas dependências como país — seja em fertilizantes ou outros insumos — e nos beneficiar da inovação e diversidade dos parceiros, sem privilegiar um ou outro. É preciso desenvolver novos mercados e não vender barato. Olhar para o mundo, entender suas necessidades e complementar um ao outro”, analisou.
Mercado de capitais
Na sequência, o painel “Agrobrasil com Crescimento Sustentável: Financiamento e Mercado de Capitais” evidenciou o crescimento da participação do mercado financeiro no agro. Luiz Masagão, vice-presidente da B3, destacou que instrumentos como Fiagro e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) vêm ganhando espaço, ampliando as fontes de financiamento.
“O mercado de capitais vem avançando nos últimos cincos anos e se tornou uma alternativa. Hoje, o Fiagro e o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) representam cerca de 3% do mercado de capitais, com espaço para crescer”, observou.
Já Bruno Gomes, superintendente de Securitização e Agronegócio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), defendeu a importância de os empreendedores do agro conhecerem o mercado de capitais. “Hoje a exigência é de pessoa jurídica, mas dentro da CVM estamos analisando a possibilidade de produtores pessoas físicas com balanço auditado e critérios de governança acessar o mercado de capitais, assim como as cooperativas”, disse.
“Em 2024, entendemos o ciclo do Agro e isso, ajudou a acelerar o mercado de capitais. Este ano está sendo um ano de amadurecimento da legislação e do mercado de capitais. Para 2026, vejo um cenário promissor para o financiamento da cadeia com um potencial para o futuro e os investimentos”, complementou Bruno Santana, CEO da Kijani Investimentos.
Um dos instrumentos fundamentais avaliados pelos debatedores foi o Fiagro, com 650 mil investidores e patrimônio líquido de R$ 44 bilhões. “O Fiagro chegou para ajudar e potencializar o mercado de ativos da securitização. Há espaço para crescimento desde que haja dados coerentes, conhecimento educacional para corroborar a tomada de decisão dos investidores”, destacou Flavia Palacios, diretora da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA).
Transição energética
Ao final do evento, na mesa redonda sobre transição energética, especialistas discutiram os desafios e oportunidades para o setor e para o país nesta área
Na ocasião, o embaixador Alexandre Parola comentou sobre o esgotamento das fontes fósseis e a mudança climática que leva a urgência para essa transição. Mencionou a curva de custo em “U”, uma representação teórica que sugere que o desenvolvimento econômico pode ter um impacto negativo inicial no meio ambiente, mas que, com o tempo e o aumento da renda, as sociedades podem se tornar mais preocupadas com a qualidade ambiental e tomar medidas para reduzir a degradação.
Além disso, William Vella Nozaki, da Transpetro, disse que a Petrobras observa o período de 2025 até 2040 um caminho rumo aos biocombustíveis com mais eficiência e a partir de 2040 com uma maior capacidade de eletrificação. “O desafio será articular essa transição com segurança e novas fontes”, sinalizou.
“Sou otimista sobre o futuro do Brasil, do ponto de vista da transição energética olhando para nossas condições ambientais e fundamentos. Brasil caminha para ser protagonista da agenda verde”, complementou Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração da Copersucar.
No entanto, o deputado federal Arnaldo Jardim lamentou a ausência de um projeto nacional estruturado devido à polarização política, reforçando que o agro deve ser a base para um consenso que una sustentabilidade, inovação e diálogo ambiental.
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