Revista MS

Após 2 anos de silêncio, mais uma mulher cria coragem e denuncia fotógrafo em Campo Grande

Após acusações de assédio contra um fotógrafo em Campo Grande se tornarem públicas, diversas mulheres procuraram a polícia para denunciar casos semelhantes. Nesta semana, outra vítima buscou a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e relatou também ter sido abusada durante um ensaio fotográfico.

O estupro teria ocorrido há dois anos, em 2022, porém a jovem só criou coragem de denunciar e contar o que sofreu nesta semana. A decisão foi tomada após denúncias virem à tona e ela identificar o mesmo modus operandi nos relatos de outras vítimas. Foi então que ela resolveu agir, conta a advogada Rafaella Amaral, que cuida do caso.

Amparada pela advogada e por um grupo de apoio, a jovem contou que o abuso ocorreu durante uma sessão de fotos profissionais, mas que desde o agendamento do horário já havia percebido sinais de que algo estava errado. Ela foi ao estúdio acompanhada de um amigo, mas a presença do rapaz não intimidou a ação do fotógrafo.

Segundo a vítima, durante o agendamento, o fotógrafo foi muito simpático, amigável e passou a sensação de ser homossexual, o que a teria deixado mais à vontade. Porém, ainda na conversa, ele deu os primeiros sinais de comportamento inadequado.

“Ele sabia que era uma foto profissional, já estava tudo certo sobre o que seria feito na sessão, mas ele mandou um áudio pedindo para levar um body e um óleo corporal. Eu fiquei pensando naquilo, não entendi e ignorei”, contou.

No dia das fotos, a jovem relatou que foi ao salão, fez o cabelo, maquiagem e se dirigiu ao estúdio acompanhada de um amigo. “Então começamos tirando as fotos, de camisa, um vestidinho, tudo profissional, e meu amigo ali comigo o tempo todo, até que teve uma hora, o primeiro momento que me deixou confusa e me deu um alerta, que foi quando ele falou para tirarmos uma foto em uma salinha onde tinha uma parede que era muito bonita”, relatou.

 A advogada Rafaella Amaral acompanha o caso – Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo achando estranho, ela aceitou a ideia e se dirigiu ao local junto ao fotógrafo e ao amigo. Ela entrou, seguida do profissional, que teria fechado a porta antes que o amigo dela pudesse entrar, impedindo o acesso.

Neste momento, teriam ocorrido os primeiros abusos, conforme a vítima. Entre trocas de roupas e posições, a jovem percebeu que o fotógrafo estaria excitado. Em dado momento, ele a teria tocado de maneira indecente, com a desculpa de estar “arrumando” sua posição correta.

Mesmo incomodada, ela permaneceu no local, pois aquela era sua primeira sessão fotográfica e ela não sabia até que ponto aquilo tudo era comum durante uma sessão. Em seguida, ele pediu para que ela retirasse a roupa para tirar algumas fotos sensuais. Essas fotos não estavam dentro do pacote combinado.

A jovem, no primeiro momento, fez o que foi pedido, porém, a partir dessa situação, relata que, congelada pelo medo, choque e nervosismo, não conseguiu reagir. “Eu não estava mais dentro do meu corpo ali, naquele momento. Eu me desliguei. Eu me desintegrei.”

Aproveitando a falta de reação da vítima, o fotógrafo a forçou se tocar nas partes íntimas. Percebendo a desconfiança do amigo da jovem, ele a levou para um canto mais escuro e escondido das vistas do rapaz, onde ergueu o vestido dela, a encoxou e a tocou.

Com o fim da sessão de fotos, a jovem foi embora, porém, muito abalada psicologicamente, não conseguiu pedir ajuda ou denunciar o estupro. Ela guardou o ocorrido por cerca de dois anos, até o caso de outra vítima vir a público nesta semana. Foi quando tomou coragem e decidiu realizar um boletim de ocorrência.

A advogada conta que o caso da sua cliente, infelizmente, é mais um dentre muitos outros que possam existir. Ela relata que, apesar do medo e do sofrimento das vítimas, é importante que elas façam um boletim de ocorrência para que o acusado possa responder pelos crimes.

“É importante ressaltar que a Deam, localizada na Casa da Mulher Brasileira, está investigando este e outros casos e que há uma investigadora específica para receber as denúncias das vítimas desse fotógrafo. A delegacia possui toda uma equipe preparada para acolher essas mulheres. A realização do Boletim de Ocorrência é importante para que novos casos não ocorram”, conclui Rafaella.