Aos 61 anos, Marta Carlota de Oliveira acaba de conquistar algo que muitos poderiam considerar um sonho distante: a conclusão do curso de Serviço Social. Sua formatura, marcada para o próximo mês de maio, não é apenas uma realização acadêmica, mas também um reflexo de sua trajetória de superação e de dedicação ao cuidado do próximo.
Natural de São Paulo, Marta levava uma vida tranquila até que tomou uma decisão que mudaria sua rotina completamente. Em 2017, completou o Ensino Médio por meio do Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) e, em 2021, durante a pandemia de covid-19, ingressou na faculdade. No entanto, antes disso, ela deixou a vida na capital paulista para se mudar para Campo Grande e cuidar de sua mãe, atualmente com 87 anos. Mais tarde, as duas se mudaram para Coxim, no interior do Mato Grosso do Sul.
Essa experiência foi fundamental para sua escolha pelo Serviço Social, pois foi ali que Marta vivenciou as dificuldades e os desafios de quem cuida de entes queridos, como sua mãe, diagnosticada com Alzheimer. Durante o curso, teve contato direto com a realidade dos cuidadores de idosos e crianças, o que a levou a escolher o tema do seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso): “Abandono de cuidadores de crianças e especiais, desafios e necessidades na APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais)”.
Esse estudo abordou um problema muitas vezes ignorado pela sociedade: a falta de apoio a quem dedica sua vida ao cuidado de outros. Marta, que sentiu na pele as dificuldades de cuidar de sua mãe, também observou durante seu estágio no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Coxim que esse é um tema relevante, ainda mais quando se observa o abandono de cuidadores e a falta de políticas públicas voltadas para esse público.
Marta compartilha um pouco de sua experiência durante esse período: “Nos dois primeiros anos, não foi difícil, pois eu ficava em casa e só ia uma vez ao polo. Mas, durante o estágio, que teve três etapas, ela precisava ficar sozinha. Foi mais preocupante. Fazia seis horas de estágio, voltava para casa para fazer o almoço e logo retornava. Mas minha mãe foi guerreira, não fazia bagunça e esperava eu ou meu irmão, que é bombeiro, voltarmos. Eu digo que ela se graduou junto comigo.”
Agora, formada, Marta está pronta para seguir com seus projetos. Ela deseja continuar sua jornada de aprendizado e contribuição, buscando sempre apoiar aqueles que, como ela, se dedicam ao cuidado dos outros. Marta, que aos 62 anos já tem direito à aposentadoria por tempo de serviço, afirma que não pretende parar por aí: “Vou fazer pós-graduação em educação especial, pois meu TCC foi sobre cuidadores de crianças especiais atendidas pela APAE. Quero me especializar nessa área. Acredito que posso dar minha contribuição à assistência social da minha cidade.”
Sobre sua trajetória profissional antes da formação, Marta revela que já exerceu diversas funções ao longo da vida. “Eu já fui de tudo um pouco. Fui cobradora de ônibus em São Paulo, motorista de lava-jato em Rio Brilhante, costureira em Campo Grande. Depois, tive que parar para cuidar de minha mãe, que está no primeiro estágio de Alzheimer. Cuido exclusivamente dela há seis anos, e meus irmãos e irmãs me dão suporte financeiro”, conta.
Atualmente morando em Coxim, Marta explica que se mudou para a cidade para proporcionar uma melhor qualidade de vida à sua mãe. “Morei 17 anos em Campo Grande e faz três que estou aqui, porque a cidade tem mais qualidade de vida para minha mãe. Além disso, um irmão meu mora no mesmo quintal e me ajuda. Aqui, vivemos em frente à natureza, enquanto em Campo Grande ela ficava trancada dentro de casa.”
A história de Marta Carlota de Oliveira é um exemplo de força, dedicação e empatia, mostrando como a superação pessoal pode se transformar em uma missão que beneficia a comunidade ao redor.