Revista MS

Alta dos alimentos pressiona, mas avanço da renda segura expectativas de inflação, aponta FGV

Os sucessivos aumentos nos preços dos alimentos vêm pressionando as expectativas de inflação dos consumidores brasileiros nos últimos meses. No entanto, o avanço na renda e um mercado de trabalho ainda aquecido têm ajudado a conter um pessimismo maior, segundo avaliação da pesquisadora Anna Carolina Gouveia, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Em março, os consumidores projetavam uma inflação de 6,6% para os 12 meses seguintes, após ter chegado a 6,8% em janeiro. Em abril, houve um leve recuo, para 6,4%, ainda acima dos 6,0% registrados em setembro de 2024, antes do atual ciclo de altas nos alimentos, que já dura oito meses consecutivos, segundo dados da inflação oficial.

O indicador de expectativa de inflação dos consumidores, que tem série histórica iniciada em 2005, já chegou a registrar patamares muito mais elevados, com picos de 11,4% em fevereiro de 2016 e novamente em julho de 2022, durante períodos de forte pressão inflacionária no país.

Para Gouveia, a leve melhora nas expectativas em abril reflete uma reavaliação dos consumidores em relação ao início do ano, diante da percepção de que, apesar da pressão dos alimentos, a inflação não segue uma trajetória explosiva.

“É possível que os consumidores tenham reavaliado suas expectativas ao perceberem que, apesar de alguma aceleração, a inflação não está em trajetória de crescimento descontrolado”, explicou a pesquisadora.

“Com o mercado de trabalho ainda forte e as pessoas com mais renda, elas conseguem fazer alguma substituição de itens, o que ajuda a conter um maior pessimismo. Apesar de não ser o ideal, conseguem ajustar a alta dos preços dentro dos seus orçamentos”, complementou.

De acordo com o IBGE, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de 5,53% nos 12 meses encerrados em abril. No mesmo período, o grupo de alimentação e bebidas teve uma inflação bem acima da média, acumulando 7,81%.

Para Gouveia, o fato de a inflação, especialmente dos alimentos, não ter acelerado para níveis de dois dígitos é um dos fatores que mais contribuem para a calibragem nas expectativas dos consumidores em abril.