Revista MS

"A lei tem cor", desabafa Oruam após ter casa invadida pela polícia

Após soltar o verbo no Instagram, na madrugada desta terça-feira (22), por ter sua casa invadida por policiais, Oruam voltou a criticar os agentes de segurança. Em nota enviada à coluna Fábia Oliveira, com exclusividade, o rapper deu detalhes do caso e desabafou.

No texto, o cantor afirmou que ele, a noiva, Fernanda Valença, e os amigos foram agredidos, e declarou que tem sido vítima de uma perseguição: “A lei tem cor e só vale pra preto, vocês não estão preparados pra pretos no topo”, disparou.

Ainda no comunicado, Oruam reafirmou que não é bandido e muito menos tem envolvimento com qualquer prática criminosa: “Com essa perseguição tem afetado minha vida, minha carreira e minha integridade, sem contar os prejuízos emocionais, físicos e materiais que estou sofrendo”, desabafou.

Pedido de prisão

A Justiça do Rio de Janeiro expediu mandado de prisão preventiva contra Mauro Davi Nepomuceno, conhecido como Oruam, na manhã desta terça-feira (22/7).

O pedido de detenção ocorre após Oruam ser indiciado por associação com o Comando Vermelho (CV). Ele entrou na mira da polícia após afrontar as forças de segurança do Rio de Janeiro (RJ) e publicar, em suas redes sociais, vídeos com xingamentos direcionados a investigadores que estiveram em sua casa na noite de segunda-feira (21/7).

Veja a nota completa

“Eu, Oruam, venho por meio deste relato registrar um grave episódio de abuso de poder, violência e agressão que sofri na madrugada do dia 22 de julho de 2025, dentro da minha residência. Começo falando que eu só joguei pedras depois de ser ameaçado com armas de fogo. E tenho provas

Por volta da meia-noite, sem qualquer mandado de prisão, ordem de busca ou justificativa legal aparente, uma quantidade superior a 20 viaturas da Polícia Civil invadiu minha casa de forma abrupta e agressiva. Os policiais estavam sem farda, o que demonstra a ilegalidade da ação, e procederam à revistagem de tudo o que tinha na minha casa, bem como das minhas roupas e da minha noiva, além de rasgarem e destruírem pertences pessoais. Durante toda a abordagem, os agentes apontaram armas de fogo, incluindo fuzis, para mim, minha noiva e 5 amigos que estavam presentes na casa. Sabe o que encontraram? Nada! Nada de droga, nada de arma, nada ilegal!

Apesar da invasão, nenhum objeto suspeito foi encontrado e não havia motivo algum para tal ação. Além disso, durante a abordagem, meu produtor, que estava comigo, foi algemado de maneira arbitrária e sem justificativa plausível. Essa ação violenta e desproporcional, além de humilhante, gerou grande sofrimento emocional e físico para todos nós presentes. Os policiais nos trataram de forma extremamente preconceituosa, nos chamando de “marginais” e diversos outros xingamentos seguidos de agressões físicas.

Sou um “artista periférico”, termo do qual tenho orgulho, pois representa minha origem e minha trajetória, mas que foi utilizado de forma pejorativa e preconceituosa pelo Secretário Estadual da Polícia Civil, Felipe Curi, que também me caluniou, acusando-me de ser marginal, criminoso, bandido e delinquente, além de me associar ao tráfico de drogas sem qualquer prova ou fundamento. Com que base esse secretário afirma isso, após tudo que fizeram na minha casa e não encontraram nada? A lei tem cor e só vale pra preto, vocês não estão preparados pra pretos no topo.

Durante toda a ação, fomos insultados, xingados e agredidos fisicamente, sendo que, ao nos verem completamente acuados e sob ameaça constante, começamos a gravar as ações policiais com nossos celulares na tentativa de registrar as agressões e as violações de direitos que estávamos sofrendo. Essas gravações mostram claramente as ações desmedidas, as ameaças de morte e as agressões físicas.

A situação se agravou quando, após a invasão, as agressões continuaram. Para tentar cessar a violência e as ameaças de morte, joguei pedras na direção dos policiais, ação desesperada que, apesar de ser uma reação de desespero, foi uma tentativa de fazer os policiais cessarem as agressões físicas, ameaças e o uso de armas de fogo contra mim, minha noiva e meus amigos. Após toda essa violência e intimidação, senti-me completamente acuado e traumatizado com a situação.

Tenho em minha posse fotos e vídeos que comprovam todas as agressões, invasão, ameaças, além das ações arbitrárias de policiais que invadiram minha residência sem mandado, sem justificativa legal e de forma violenta. Essas provas demonstram claramente a ilegalidade do que ocorreu naquela madrugada.

Gostaria de registrar que meu trabalho como músico vem de uma trajetória de muito esforço e dedicação. Meu dinheiro é obtido através da minha música, que muitas vezes fica entre as mais ouvidas no Brasil, e não tenho qualquer relação com atividades ilícitas ou criminosas. Com essa perseguição tem afetado minha vida, minha carreira e minha integridade, sem contar os prejuízos emocionais, físicos e materiais que estou sofrendo.

Reitero, mais uma vez, que não sou bandido, criminoso ou delinquente. Sou artista, legítimo representante da minha expressão musical e cultural. Fui vítima de abuso policial. E que sejam tomadas as devidas providências para que casos como este não se repitam, garantindo direitos, e integridade física e moral. Não posso aceitar que agentes do Estado utilizem a força de maneira desmedida, sem justificativa e sem respeitar os direitos fundamentais dos cidadãos, especialmente daqueles que não representam qualquer ameaça à segurança pública.

Reafirmo que toda a ação policial foi unilateral, violenta e injustificada, e que minhas tentativas de registrar a agressão com vídeos e fotos são comprovações irrefutáveis do abuso que sofri. É crucial que esse episódio seja apurado com rigor, para que haja responsabilização daqueles que agiram de forma ilegítima, e que não se tolere qualquer prática abusiva por parte de agentes públicos.

Por fim, exijo respeito à minha dignidade, à minha história, ao meu trabalho e à minha vida, e espero que essa denúncia seja levada a sério, contribuindo para a Justiça e para o combate a práticas policiais arbitrárias e abusivas no país.

Em consulta ao meu jurídico, temos as seguintes informações: o cumprimento de mandados de busca, apreensão e até mesmo prisão, são feitos durante o “dia”, entre as 5h e 21h, sendo assim, o próprio delegado infringiu a lei e utilizou de abuso de poder para invadir a casa de uma pessoa sem qualquer justificativa legal.

Na Lei nº 13.869/2019 (Abuso de Autoridade), o artigo 22, inciso III, considera crime de abuso de autoridade a ação de cumprir mandado de busca e apreensão domiciliar fora do período diurno, entre 5h às 21h”.