A primeira vacina biodegradável do mundo para proteger o gado da febre aftosa foi desenvolvida por meio de uma parceria de pesquisa entre a Meat & Livestock Australia (MLA), a empresa de tecnologia Tiba Biotech e o governo estadual de Nova Gales do Sul (NSW), informam as agências internacionais.
O estudo teve duração de cinco anos e recebeu investimentos de US$ 20 milhões.
Embora a Austrália continue livre de febre aftosa, a introdução do vírus poderia custar à economia australiana até US$ 80 bilhões, de acordo com estimativas do Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics And Sciences (ABARES).
Diferentemente da vacina tradicional, feita com o vírus inativo (morto) ou atenuado (enfraquecido), a nova vacina biodegradável é baseada na molécula RNA (sigla em inglês para Ribonucleic Acid), sintético que instrui o corpo a produzir antígenos – tecnologia semelhante às vacinas modernas da COVID-19.
Segundo os pesquisadores, a nova vacina biodegradável usa mRNA para induzir uma resposta imune, em vez de um vírus real. Essas vacinas de mRNA têm se mostrado seguras para animais e consumidores, garantem os cientistas.
“As vacinas de mRNA permitem que o animal crie proteínas e anticorpos para desencadear uma resposta imune. Elas fazem isso sem entrar no núcleo das células e desaparecem do animal em poucos dias, deixando para trás anticorpos que protegem contra o vírus”, detalham os pesquisadores.
O diretor administrativo da MLA, Michael Crowley, disse que, embora se esperasse que uma vacina contra febre aftosa nunca fosse necessária, a pesquisa representa uma abordagem proativa para gerenciar o risco de biossegurança.
“A febre aftosa está presente em países próximos à Austrália e é uma das principais preocupações da indústria em termos de potenciais riscos de biossegurança”, disse Crowley.
Pesquisadores descobriram que a nova vacina demonstrou uma resposta imunológica forte e eficaz, além de segurança em testes preliminares na Alemanha. O gado vacinado não contraiu febre aftosa quando exposto à doença e, principalmente, não excretou o vírus.
Após esses testes, a vacina agora deve passar por um rigoroso processo de avaliação antes da aprovação para uso em gado.
O cofundador da Tiba, Peter McGrath, sediado na Austrália, disse que a empresa está focada em trabalhar com reguladores para garantir a segurança e a eficácia das vacinas.
“A Austrália está agora na vanguarda do desenvolvimento de vacinas para gado, trazendo consigo o potencial de desenvolver capacidade de produção, empregos e exportações”, disse McGrath.
Ao contrário das tecnologias atuais de mRNA, as novas vacinas podem ser armazenadas por longo prazo em temperaturas de refrigeração padrão e até mesmo em temperatura ambiente por pelo menos um mês. Esta é uma vantagem crucial em aplicações pecuárias, observam os pesquisadores.
Em artigo publicado no portal da Beef Central, o professor Timothy J. Mahony, da Universidade de Queensland, disse que, caso entrasse no país, a “febre aftosa devastaria a indústria local de carne bovina”.
“Parece inofensivo, mas a febre aftosa é uma das doenças de gado mais devastadoras economicamente do mundo”, ressaltou.
O último surto na Austrália ocorreu em 1872. Mas, há três anos, lembrou o professor, a febre aftosa chegou à Indonésia, gerando alarme generalizado e novas medidas de biossegurança.
O vírus que causa a febre aftosa é extremamente contagioso, alertou Mahony. “Muitas outras doenças infecciosas só se espalham entre animais que vivem próximos. Mas este vírus pode se espalhar pelo ar e sobreviver em superfícies por muito tempo”, explicou.
Os danos generalizados e persistentes que causa à saúde animal, à produção de leite e à fertilidade são suficientes para torná-la uma preocupação real para grandes nações agrícolas, como a Austrália, enfatizou Mahony.
Os exportadores australianos de carne bovina e de gado contam com o status de “nação livre das principais doenças animais”. Isso significa que os produtos de origem animal podem ser exportados livremente para muitos países.
Se a febre aftosa entrasse na Austrália, o comércio de exportação seria interrompido, esclareceu o professor. “Muitos países deixariam de comprar animais e produtos de origem animal australianos para impedir que o vírus se espalhasse para seus rebanhos livres da doença”.
O professor da Universidade de Queensland lembrou que, em 2001, um surto do vírus foi detectado no Reino Unido, após sua ampla disseminação. “Para controlá-lo, as autoridades sacrificaram mais de seis milhos de animais, com prejuízo estimado para a indústria foi de A$ 16 bilhões”.
Segundo ressaltou o artigo de Mahony, vacinas contra febre aftosa não são novidade – “já existem estoques no exterior, e a Austrália teria acesso a eles em caso de surto”. No entanto, disse ele, há duas razões pelas quais esta nova vacina de mRNA é significativa para o país.
Primeiro, relatou o professor, a vacina está sendo produzida localmente, o que torna mais fácil para as autoridades responderem ao suposto surto local da doença na velocidade necessária.
Em segundo lugar, a tecnologia de mRNA oferece a capacidade de ajustar rapidamente as vacinas para corresponder a novas cepas. Além disso, a produção de vacinas de mRNA também pode ser ampliada muito rapidamente.
“Vacinas, abate e rastreamento podem parecer exageros. Mas este vírus simples não pode ser subestimado”, alertou o professor.
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